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O custo do tratamento do câncer de mama por paciente no SUS

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Introdução

O câncer de mama é a neoplasia mais incidente em mulheres, sendo um problema de saúde pública na maior parte do mundo1. As taxas ajustadas de incidência para o câncer de mama são as maiores tanto em países com alto IDH- Índice de Desenvolvimento Humano (55,9 por 100 mil) quanto naqueles considerados com baixo e médio índice (29,7 por 100 mil) [2].

Uma em cada cinco pessoas em todo o mundo desenvolverá câncer durante a vida, segundo as projeções [3], o número de pessoas diagnosticadas com câncer aumentará ainda mais nos próximos anos e será quase 50% maior em 2040 do que em 2020.

No Brasil o câncer de mama é o mais incidente em mulheres em todas as regiões, sendo a taxa mais alta concentrada nas regiões Sudeste e Sul. Estima-se que o número de casos novos de câncer de mama para o triênio de 2023 a 2025 seja de 66,54 a cada 100 mil mulheres [2,4]

O carcinoma de mama apresenta múltiplas formas de apresentação, incluindo cinco subtipos clinicopatológicos com comportamento biológico diferencial, bem como fatores de risco clínico, terapia individualizada e prognóstico [5]. Cerca de 8 mil genes foram analisados em estudo onde os cinco subtipos moleculares iniciais apresentados são: luminal A (Receptores de estrogênio e/ou progesterona positivos, sendo o crescimento mais lento das células), luminal B (Receptores de estrogênio e/ou progesterona positivos, apresentam um nível mais acelerado de proliferação celular), superexpressão de HER2 (Receptores de estrogênio e/ou progesterona negativos, proteína HER2 em excesso), triplo-negativos ( Receptores de estrogênio e/ou progesterona negativos e HER2 negativo) e mama-normal símile [5,6,7].

Uma coorte retrospectiva apontou que mulheres brasileiras têm maior risco de serem diagnosticadas com câncer de mama em estágio avançado, sendo mulheres com perfil mais jovens do que em países de alta renda [8].

Tratar o câncer de mama varia de acordo com o estadiamento e suas características biológicas, bem como as condições do paciente, sendo alguns: idade, status da menopausa (se está em pré ou pós), comorbidade, dentre outras condições [9].

Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo. As modalidades de tratamento do câncer de mama podem incluir: tratamento local por meio de cirurgia e radioterapia, bem como tratamento sistêmico, com quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica [9].

Segundo o Instituto Nacional do Câncer- INCA, serão gastos cerca de R$ 2,5 bilhões em 2030 e R$ 3,4 bilhões em 2040, com três tipos de câncer sendo eles: mama, colorretal e endométrio [10]. As despesas abrangem procedimentos hospitalares e ambulatoriais realizados no SUS em pacientes oncológicos com 30 anos ou mais [10]. Aponta-se que uma má gestão pode gerar desperdícios pela inércia dos serviços, que não realizam procedimentos de caráter preventivo, de rastreamento ou de acompanhamento regular, deixando de prevenir as principais doenças crônicas ou de minimizar as complicações destas afecções, no qual impacta em altos custos de internação, procedimentos e medicamentos [11].

Objetivo

Identificar os custos diretos do tratamento ambulatorial de primeira linha em relação a cirurgia, quimioterapia (QT), radioterapia (RT) e hormonioterapia no Sistema Único de Saúde.

Metodologia

Foi realizada uma pesquisa quantitativa sobre o custeio do tratamento do câncer no Brasil.

Foram considerados neste estudo, para análise de custo, os subtipos triplo-negativo, HER2 positiva (que possuem receptores hormonais negativos) e receptores de estrogênio e/ou progesterona positivo, com o tratamento hormonal pós e pré menopausa. Cada subtipo foi calculado o tratamento, segundo os procedimentos cirúrgicos, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia para os estágios clinicopatológicos I,II, III e IV.

Considerou-se os perfis de estadiamentos mais frequentes para o tratamento de câncer de mama em uma mulher adulta, o peso utilizado para o cálculo das doses das medicações foi de 70 kg, com idade de 55 anos e altura 1,60m e creatinina de 0,9, consideramos, também, uma superfície corpórea de aproximadamente 1,80 m2.

As informações financeiras sobre o tratamento, foram levantadas no ano de 2023 através do SIGTAP Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e Órteses, próteses e materiais especiais do Sistema Único de Saúde (SUS) http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-unificada/app/sec/inicio.jsp, bem como a Tabela da Câmara de Regulamentação do Mercado de Medicamentos (CMED) que informa sobre o preço máximo de venda ao governo (PMVG) https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/cmed/precos e preços de medicamentos por princípio ativo através da coluna por preço de fábrica (PF), com valores calculados sob a alíquota de ICMS de 17%.

O valor considerado para cada uma das cirurgias oncológicas foi o custo total gasto dos procedimentos cirúrgicos no hospital realizados para a determinada neoplasia. Para realização dos cálculos, utilizou-se a moeda brasileira (R$).

Para a realização deste estudo foi adotado a diretriz de recomendações terapêuticas da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) [12] para o câncer de Mama, como também, nos baseamos em outros manuais [13,14] referenciados para conduta de diagnóstico e tratamento.

Resultados

O custo para o tratamento de primeira linha para paciente com HER-2 Negativo com RH+ em mulheres na pré-menopausa no estadiamento I, considerando a cirurgia + radioterapia + Tamoxifeno por 5 anos, correspondeu a R$ 17.009,30; o valor para o estadiamento II, em relação a cirurgia + QT (TC = docetaxel + ciclofosfamida) + radioterapia + Tamoxifeno por 5 anos correspondeu a R$ 29.257,58 ; No estadiamento III, com a cirurgia + QT (AC-T = docetaxel + ciclofosfamida + paclitaxel) + radioterapia + Tamoxifeno por 5 anos correspondeu a R$ 45.696,27. Enquanto no estadiamento IV, a cirurgia + radioterapia + Anastrozol e supressão ovariana com Análogo de LHRH, correspondeu a R$128.046,12.

O custo para o tratamento cirúrgico e ambulatorial de primeira linha para pacientes com Câncer de Mama HER-2 Negativo com RH+ em mulheres na pós-menopausa no estadiamento I, considerando, a cirurgia + inibidor de aromatase (anastrazol) por 5 anos + radioterapia, correspondeu a R$68.794,45; o valor para o estadiamento II com relação a cirurgia + QT (AC-T = docetaxel + ciclofosfamida + paclitaxel) + radioterapia + inibidor de aromatase (anastrazol) por 5 anos correspondeu a R$ 97.660,27; Já para estadiamento III, a cirurgia + QT (AC-T = docetaxel + ciclofosfamida + paclitaxel) + radioterapia + inibidor de aromatase (anastrazol) por 5 anos corresponde a R$ 97.481,42. Enquanto no estadiamento IV, a cirurgia + radioterapia + Fulvestranto a cada 28 dias, corresponde a R$ 356.172,12.

O custo para o tratamento de primeira linha para pacientes com câncer de Mama HER-2 Positivo e Receptores Hormonais Negativos no estadiamento I, considerando a cirurgia + QT ( AC +TH = doxorrubicina + ciclofosfamida+ paclitaxel + trastuzumabe)+ radioterapia resultou em R$ 125.321,27. Para o estadiamento II, considerando, cirurgia + Trastuzumabe (pós cirurgico) + QT ( AC +TH = doxorrubicina + ciclofosfamida+ paclitaxel + trastuzumabe)+ radioterapia, corresponde a R$ 157.325,51. Já para o estadiamento III cirurgia+ QT ( AC +TH = doxorrubicina + ciclofosfamida+ paclitaxel + trastuzumabe)+ radioterapia + Tamoxifeno por 5 anos (caso de receptores hormonais positivos), corresponde a R$ 165.580,55. Enquanto no estadiamento IV cirurgia + QT (Trastuzumabe + Pertuzumabe+ Docetaxel) + radioterapia + inibidor de aromatase (anastrazol) por 5 anos, corresponde a R$ 237.569,19.

Os resultados do custo para o tratamento cirúrgico e ambulatorial de primeira linha para pacientes com Câncer de Mama Triplo Negativo no estadiamento I, considerando cirurgia + QT (AC-T = docetaxel + ciclofosfamida + paclitaxel) + RT, corresponde a R$ 37.208,58; No estadiamento II, considerando, cirurgia + QT (Trastuzumabe + Pertuzumabe+ Docetaxel) + RT, corresponde a R$ 37.981,42; Já estadiamento III cirurgia + QT (Trastuzumabe + Pertuzumabe+ Docetaxel)+ RT, corresponde R$ 37.982,42. Enquanto no estadiamento IV, cirurgia + QT (paclitaxel + Carboplatina)+ RT, corresponde a R$56.664,00.

Foram considerados com os cálculos, segundo estadiamento, exames para verificação do tumor, como estado linfonodal regional, tamanho do tumor, tipo e grau histológico sendo: tomografia de tórax com contraste, tomografia de abdome com contraste, cintilografia óssea e ressonância nuclear magnética de crânio, com padrão de custo de 951,69 reais para estes exames no SUS.

No tratamento ambulatorial, o procedimento de hormonioterapia e quimioterapia tiveram os valores mais altos devido às mudanças de protocolos, dosagem do medicamento e tecnologia mais avançada. Os demais procedimentos, como radioterapia e cirurgia, seguem um padrão de custo variando apenas, em alguns casos, no avanço dos estágios da doença e/ou por conta de adicionais na terapêutica como exames pré-procedimento.

Conclusão

Segundo a OMS, para cada 1 dólar investido em políticas públicas e medidas de prevenção em 9 anos, poderia gerar uma economia de 230 bilhões de dólares. O mesmo aponta que em cada R$ 1,00 gasto com prevenção, outros R$ 4,00 deixam de ser gastos com tratamento [15].

Verificar quanto é gasto no tratamento do câncer de mama é importante para impactar gestores e sociedade para avaliarem o quanto é importante prevenir e rastrear este câncer. Desta forma detecção precoce permanece como a chave para garantir resultados mais promissores no tratamento e melhorar a qualidade de vida das pacientes.

Referências

  1. Zavala VA, Serrano-Gomez SJ, Dutil J, Fejerman L. Genetic Epidemiology of Breast Cancer in Latin America. Genes (Basel). 2019 Feb 18;10(2):153. doi: 10.3390/genes10020153. PMID: 30781715; PMCID: PMC6410045.

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde – SAS. Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022.

  1. WHO. World Health Organization. Breast cancer now most common form of cancer: WHO taking action [3 february 2021. Acesso em: 08 de março de 2024]. Disponível em: <https://www.who.int/news/item/03-02-2021-breast-cancer-now-most-common-form-of-cancer-who-taking-action>

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Conitec. Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Carcinoma de Mama. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Coordenação-Geral de Gestão de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas [internet]. [ Acesso em : 08 de março de 2024]. Disponível em: <https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2022/20220919_rrcarcinoma_mama.pdf;

  1. Li J, Chen Z, Su K, Zeng J. Clinicopathological classification and traditional prognostic indicators of breast cancer. Int J Clin Exp Pathol. 2015;8(7):8500-8505.

  1. Cirqueira MB, Moreira MAR, Soares LR, Freitas-Júnior R. Subtipos moleculares do câncer de mama. FEMINA. Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2011, vol 39, nº 10.

  1. Yeo SK, Guan JL. Breast Cancer: Multiple Subtypes within a Tumor? Trends Cancer. 2017 Nov;3(11):753-760. doi: 10.1016/j.trecan.2017.09.001. Epub 2017 Oct 24. PMID: 29120751; PMCID: PMC5802368.

  1. Simon SD, Bines J, Werutsky G, et al. Characteristics and prognosis of stage I-III breast cancer subtypes in Brazil: The AMAZONA retrospective cohort study. Breast. 2019;44:113-119. doi:10.1016/j.breast.2019.01.008.

  1. Brasil Ministério da Saúde. Inca. Tratamento do Câncer de Mama [Internet]. publicado em 2022. [ Acesso em: 8 de março de 2024]. Disponível em: <https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-de-mama/acoes/tratamento>

  2. Brasil. Ministério da Saúde. INCA. Gastos do SUS com cânceres que poderiam ser prevenidos com atividade física chegarão a R$ 2,5 bilhões em 2030. publicado em 2022. [Acesso em: 08 de março de 2024]. Disponível em:<https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/noticias/2022/gastos-do-sus-com-canceres-que-poderiam-ser-prevenidos-com-atividade-fisica-chegarao-a-r-2-5-bilhoes-em-2030>
  1. Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). SUS: avaliação da eficiência do gasto público em saúde / Organização de Carlos Octávio Ocké-Reis. Alexandre Marinho, Francisco Rózsa Funcia [et. al]. – Brasília : Ipea, CONASS, OPAS, 2022.

  1. SBOC- Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Diretrizes de tratamentos oncológicos recomendados pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica , 2020. [ Acesso em: agosto de 2023]. Disponível em: <https://sboc.org.br/diretrizes-publicas/versoes-finalizadas-2023>

  1. Hoff, Paulo Marcelo Gehm; Diz, Maria Del Pilar Estevez; Testa, Laura (eds). Manual de condutas em oncologia [3.ed.]. RIO DE JANEIRO: Atheneu, 2019. 240p.
  1. AC Camargo. Manual de Condutas Diagnósticas e Terapêuticas em Oncologia. Ambito. 2021. Ed. 5. [acesso em: agosto de 2023]. disponível em: <https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/noticias/quinta-edicao-do-manual-de-condutas-e-praticas-oncologicas-do-accamargo>

  1. CNN Brasil. Elis Barreto. OMS: Investir US$ 1 por pessoa na prevenção de doenças pode salvar 7 milhões de vidas. Publicado em 13/12/2021. [ Acesso em: 11 março de 2024]. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/saude/oms-investir-us-1-na-prevencao-de-doencas-pode-salvar-7-milhoes-de-vidas-ate-2030/#:~:text=A%20estimativa%20da%20OMS%20%C3%A9,ser%20de%20US%24%20230%20bilh%C3%B5es>

 

Autores: Nina Melo, Juliana Francisco, Fernanda Cristina dos Santos Simão, Janaína Rosenburg Gioseffi, João Vitor Damasceno Mourão, Raquel Garcia da Silva, João Vitor Rodrigues Souza.



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