O melhor sorriso está guardado entre a cabeça e o pescoço

Epidemiologia

Câncer de cabeça e pescoço é o nome genérico que se dá aos tumores que ocorrem na boca, na faringe, na laringe e nos seios paranasais. No Brasil não se tem uma incidência bem definida dos cânceres da cabeça e do pescoço. No mundo, em 2020, foram estimados 931.931 novos casos de câncer de cabeça e pescoço, sendo o 6º tipo de câncer mais incidente (1).

Segundo o National Cancer Institute (NCI), os respectivos tumores são classificados conforme a área da cabeça ou do pescoço em que se iniciam (2): Lábio (C00); Língua (C01-C02); Cavidade Oral (C03-C06), Glândulas salivares maiores (C07-C08); Faringe: Orofaringe (C09-C10), Nasofaringe (C11), Hipofaringe (C12-C13); Localizações mal definidas do lábio, cavidade oral e da faringe (C14); Cavidade nasal, ouvido médio e seios da face (C30-C31) e Laringe (C32). As doenças do cérebro e outras áreas do sistema nervoso central e da coluna cervical são excluídas do grupo citado.

O INCA estimou, para o Brasil, em cada ano do triênio de 2020-2022, 7.650 casos novos de câncer de laringe (C32) e 15.190 casos novos de câncer na cavidade oral (C00-C10) (3). Cerca de 40% dos cânceres de cabeça e pescoço ocorrem na cavidade oral, 15% na faringe, 25% na laringe e o restante nos sítios remanescentes (4). Para câncer de laringe o risco estimado será de 6,20 casos novos a cada 100 mil homens e de 1,06 casos novos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer da cavidade oral em homens é o quinto mais frequente nas Regiões Sudeste (13,58/100 mil), Centro-Oeste (8,94/100 mil) e Nordeste (7,65/100 mil) e ocupa a sexta posição nas Regiões Sul (13,32/100 mil) e Norte (3,80/100 mil). Para as mulheres, é o 11º mais frequente na Região Nordeste (3,75/100 mil) e o 12º na Região Norte (1,69/100 mil). Já nas Regiões Sudeste (4,12/100 mil) e Centro-Oeste (2,90/100 mil), ocupa a 13ª posição. Na Região Sul (4,08/100 mil), ocupa a 14ª posição (3).

Fatores Condicionantes Gerais

O etilismo, o tabagismo e as infecções pelo HPV, principalmente pelos tipos 16 e 18, são os principais fatores de risco para esse grupo de tumores. O risco de desenvolver algum tipo câncer de cabeça e pescoço atribuído ao tabagismo e o consumo excessivo de álcool é 30 vezes maior para os indivíduos que fumam e bebem do que para aquelas pessoas que não o fazem (5, 6). Outros fatores associados são: histórico familiar, alimentação pobre em nutrientes, situação socioeconômica desfavorável e exposição excessiva a produtos químicos.

O National Cancer Institute, aponta uma possível associação entre a exposição ocupacional ao amianto em conjunto com o consumo de bebida alcoólica e de tabaco com o câncer da laringe, principalmente na construção civil, na qual a exposição a produtos que contenham amianto é grande. Estudos afirmam que a infecção com o vírus de Epstein-Barr é um fator de risco para câncer de nasofaringe e câncer de glândulas salivares (2).

Roberto Araújo, chefe da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA, explica que “A associação entre tabaco e álcool aumenta em 19 vezes a chance de ter câncer nessa região”. Outros fatores de risco associados são: má higiene dental e oral, refluxo gastroesofágico e infecções pelo papiloma vírus humano (HPV) e vírus Epstein-Barr (EBV) (7).

Tratamentos

As principais opções de tratamento para este grupo de pacientes podem incluir cirurgia, imunoterapia, radioterapia, quimioterapia e terapia alvo e, em muitos casos, mais do que um desses tratamentos ou uma combinação deles podem ser utilizados. O estudo KEYNOTE-048, publicado na revista The Lancet, em 2019, demonstrou que o uso da imunoterapia em pacientes com cânceres recidivados ou metastáticos de cabeça e pescoço levou a um ganho significativo em sobrevida (8). Os tumores de cabeça e pescoço, quase sempre, resultam em situações mutiladoras e estéticas envolvidas durante todo o tratamento, causando alterações na qualidade de vida das pessoas.

O que mostram os dados de Mortalidade

Segundo os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), em 2019, foram registrados 13.189 óbitos por tumores de cabeça e pescoço. De acordo com as localizações descritas pelo NCI, os cânceres de laringe (34,4%), faringe (24,5%), língua (15,3%) e cavidade oral (13,5%) foram as principais causas de morte encontradas. Além disso, 6,6% dos óbitos tiveram localização mal definida e 5,7% estão distribuídos nas demais localizações.

Em 2019, dos 27 estados brasileiros, oito (ES, RS, SP, PR, MG, SC, RN e MS) apresentaram coeficiente de mortalidade (por 100.000 habitantes) superior ao do Brasil (6,3). As regiões Sul (7,5) e Sudeste (7,2) apresentaram as maiores taxas de mortalidade, consequentemente, maior risco de morte. As diversas localizações dos tumores apresentam comportamentos diferentes, como por exemplo: para câncer de língua, Espírito Santo, Paraná e São Paulo apresentaram maiores riscos, enquanto para câncer de cavidade nasal, os estados do Distrito Federal, Tocantins e Rio Grande do Sul apresentaram maior risco de morte.

 

O julho verde

No mês de julho, a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) realiza a campanha de prevenção do câncer de cabeça e pescoço, com o objetivo de conscientizar e alertar a população sobre os sintomas da doença e a importância da detecção precoce. O mês de atenção à doença surgiu em 2014 no congresso mundial da IFHNOS (sigla em inglês para Federação Internacional das Sociedades Oncológicas de Cabeça e Pescoço).

 

Fonte dos dados:
Brasil. Ministério da Saúde. DataSUS – Sistema de Informação em Mortalidade.

 

Referências:

  1. International Agency for Research on Cancer – IARC. Cancer Today. Disponível em: https://gco.iarc.fr/today/home. Acesso em: 1 jul. 2021.
  2. National Cancer Institute. Cancer types. Head and Neck Cancers. Disponível em: <https://www.cancer.gov/types/head-and-neck/head-neck-fact-sheet>
  3. Ministério da Saúde. Estimativa 2020: Incidência de Câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer
    José Alencar Gomes da Silva – Rio de Janeiro: INCA, 2019. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf>
  4. RUIZ, M.T. e col. Epidemiologia e biomarcadores em câncer de cabeça e pescoço. Arq Ciênc Saúde 2006 jan-mar;13(1):34-8. Disponível em: <http://repositorio-racs.famerp.br/racs_ol/vol-13-1/ID%20158.pdf>
  5. AMERICAN CANCER SOCIETY. Cancer facts & figures 2019. Atlanta: American Cancer Society, 2019ª.
  6. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Tipos de câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2019. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer. Acesso em: 5 set. 2019.
  7. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Notícia: Prevenção e detecção precoce do câncer de cabeça e pescoço são tema de encontro no INCA Disponível em: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/agencianoticias/site/home/noticias/2016/prevencao-deteccao-precoce-cancer-cabeca-pescoco-tema-encontro-inca>
  8. BURTNESS, B. e col. Pembrolizumab alone or with chemotherapy versus cetuximab with chemotherapy for recurrent or metastatic squamous cell carcinoma of the head and neck (KEYNOTE-048): a randomised, open-label, phase 3 study.  LANCET, v.394, n.10212, p.1915-1928, 2019.

 

Nota:

Estudo originalmente produzido em 2017 e atualizado em 2021.