ESTUDO:

Câncer como a primeira causa de morte nos municípios brasileiros em 2015

COMPARTILHE ESSE ESTUDO:



Segundo a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC/OMS), organização que calcula a incidência e mortalidade por câncer no mundo, estima-se que a doença tenha sido a responsável por 8,2 milhões de mortes por câncer em 2012. No Brasil, as neoplasias malignas passaram a ser uma das principais causas de morte na população nos últimos anos (1). Se nada for feito, em 2029 o câncer se tornará a primeira causa de morte no país (2). Em relação aos casos novos no Brasil (5) estima-se +/- 600 mil novos casos de câncer ao ano, para o biênio 2018-2019, 68% estarão nas Regiões Sul e Sudeste. No Sudeste, encontra-se quase a metade dessa incidência (47%). Existe grande variação na magnitude e nos tipos de câncer entre as diferentes Regiões do Brasil (8).

Método
Foi realizado um estudo descritivo analítico baseado em dados secundários. Em resumo, uma análise de microdados do governo. Foram incluídos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, Cadastro Nacional e Estabelecimentos de Saúde e Base Populacional segundo as estimativas realizadas para o TCU.

Resultados
O câncer é principal causa em 516 (10%) municípios brasileiros.

Os dados mostram que a maior parte das cidades onde o câncer já é a principal causa de morte está localizada em regiões mais desenvolvidas do País, justamente onde a expectativa de vida e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são maiores. Dos 516 municípios onde os tumores matam mais, 80% ficam no Sul (275) e Sudeste (140). No Nordeste, estão 9% dessas localidades (48); no Centro-Oeste, 34 (7%); e no Norte, 19 (4%).

Tabela 1. Quantidade de municípios onde o câncer é a principal causa de morte, segundo região do Brasil e Unidade da Federação – 2015

Ao todo, estes municípios concentram uma população total de 6,6 milhões de habitantes. Onze municípios são considerados de grande porte, sendo Caxias do Sul (RS) o mais populoso deles, com quase meio milhão de habitantes. Outros 27 são de médio porte (com população entre 25 mil e 100 mil) e a grande maioria (478) está situada na faixa de pequenos municípios, com menos de 25mil habitantes.

O Rio Grande do Sul é o Estado com o maior número de municípios: 140 (28%) de 497 já apresentam o câncer como primeira causa de morte – em São Paulo esse número é de 8% (56 de 645). Enquanto em todo o País as mortes por câncer representam 17% do total, no território gaúcho esse índice chega a 34%.

Com relação ao sexo: das 9.865 mortes registradas por câncer nas 516 cidades, a maioria foi entre os homens (57%) – no Brasil, 53% dos os óbitos por câncer são em homens. Com relação à idade: 70% dos óbitos por câncer são em indivíduos acima dos 60 anos – no Brasil, esse valor é de 68%. Crianças e adolescentes somaram 1,3% dos óbitos por câncer naquele ano.

 

 

Possíveis causas desse cenário:
– Aumento da expectativa de vida e consequente mudanças genéticas decorrentes do envelhecimento da população (7);
– Melhor acesso a medicamentos e terapias de controle para doenças infecciosas evitando a morte por essas causas (7);
– Tabagismo: as 3 capitais da região Sul estão entre as 7 com maior prevalência de tabagismo no Brasil (5,8) (o tabagismo pode estar relacionado ao aumento de casos de câncer de pulmão, esôfago, cabeça e pescoço);
– Grande parte dos residentes são de raça/cor branca, população que apresenta maior vulnerabilidade a radiação UV (5,7,9);
– Melhor identificação e registro dos óbitos por câncer, devido ao maior acesso da população a exames de diagnóstico do câncer (3,5).

No país, as doenças do aparelho circulatório, como AVC e enfarte, ainda são responsáveis por grande parte dos óbitos, mas o número de mortes por tumores cresce em maior velocidade:
No ano de 2015, foram registradas 209.780 mortes por câncer e 349.642 por doenças cardiovasculares e esses óbitos, quando comparados aos dados de 1998, evidenciam um aumento de 90% nas mortes por câncer e de 36% por causas cardiovasculares (Causas de óbito em 1998: 110.799 vítimas de câncer e 256.511 vítimas de doenças cardiovasculares) (3).

Infraestrutura
Na tentativa de descobrir as possíveis razões que expliquem essa disparidade, fez-se um levantamento da infraestrutura da assistência oncológica nas macrorregiões do pais. Atualmente, o câncer pode ser tratado nos centros habilitados pelo Ministério da Saúde como unidades de Assistência de Alta Complexidade (UNACON) e Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON). Embora todos os estados brasileiros tenham pelo menos um hospital público habilitado em oncologia, as regiões Sul e Sudeste concentram 69% (205) deles. Além disso, nestas duas regiões estão 66% (1.354) das salas de quimioterapias e 72% (355) dos aparelhos de radioterapia. Referente à saúde suplementar, para as mesmas regiões estão disponíveis 75% (308) dos hospitais que realizam tratamento oncológico (6). Em relação a estrutura implantada, a distribuição geográfica parece estar alinhada com a magnitude da doença, maior concentração de equipamentos de saúde nas regiões de maior incidência/mortalidade. Porém são necessários mais estudos para observar outras especificidades do cuidado oncológico.

Próximos Passos
– Identificar as causas do aumento significativo na mortalidade por câncer nesses municípios;
– Caracterizar os reais fatores da alta mortalidade por câncer nas regiões onde se tem mais estrutura implantada para o tratamento do câncer;
– Mapear o fluxo de migração de pacientes que estão fora da rede, das regiões com dificuldade de acesso ao tratamento para as regiões Sul e Sudeste;
– Verificar o cumprimento da Lei no 12.732/12 (Lei dos 60 dias) nos serviços de saúde;
– Realizar ações para prevenção e controle de doenças crônicas como forma alternativa para a redução da mortalidade por câncer.

Fonte dos dados:
SIM – Sistema de Informação de Mortalidade
CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
TCU – Base Populacional disponível no Website do DATASUS

Referências:
1. Ferlay J, Soerjomataram I, Ervik M, Dikshit R, Eser S, Mathers C, Rebelo M, Parkin DM, Forman D, Bray, F. GLOBOCAN 2012 v1.0, Cancer Incidence and Mortality Worldwide: IARC CancerBase No. 11 [Internet]. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer; 2013. Disponível em: http://globocan.iarc.fr. [acessado 2018 mar. 01].
2. Matarazzo H, Lobo TC, de Melo NVM, Loggetto S, Fedozzi F, Steagall M. 2029: ano em que o câncer será a primeira causa de morte no Brasil. Braz J. Oncol. 2017; 13(Supl): 1-402, pág. 1.
3. Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Informações de Saúde. Estatísticas Vitais. Sistema de Informação sobre Mortalidade. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10br.def [acessado 2018 mar. 01].
4. Brasil. Tribunal de Contas da União (TCU) [Internet]. Bases Populacionais. Estimativas TCU 1992 até 2015. Disponível em: goo.gl/VmRahH [acessado 2018 mar. 01].
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde – SAS. Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2017
6. Brasil. Ministério da Saúde [Internet]. Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Informações de Saúde. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Disponível em: https://goo.gl/wgwsLo [acessado 2018 mar. 01].
7. Jemal A, Vineis P, Bray F, Torre L, Formand D (Eds). The Cancer Atlas. Second Ed. Atlanta, GA: American Cancer Society; 2014. Disponível em: www.câncer.org/canceratlas
8. Brasil. Ministério da Saúde, SVS. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, VIGITEL 2016. Brasília: DF; 2016.
9. Brasil. Instituto Brasileiro de Estatística de Geografia e Estatística – IBGE. Censo Demográfico, 2010 [Internet]. Indicadores Sociais Municipais, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv54598.pdf



COMPARTILHE ESSE ESTUDO:

RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Cadastre-se e fique por dentro de todas as novidades no Observatório de Oncologia

Outros Estudos

Pular para o conteúdo