Introdução:
O linfoma é um tipo de câncer que afeta os linfócitos, que são células responsáveis por proteger o corpo de infecções e doenças. O linfoma acontece quando os linfócitos e seus precursores que moram no sistema linfático, e que deveriam nos proteger contra as bactérias, vírus, dentre outros perigos, se transformam em malignos, crescendo de forma descontrolada e “contaminando” o sistema linfático. Podem ser classificados em dois grandes tipos, o linfoma de Hodgkin (LH) e o linfoma não-Hodgkin (LNH), e possuem subtipos dependendo da sua caracterização pelo tipo de célula linfoide envolvida (Brasil, 2020; Storck e col., 2019).
Linfoma de Hodgkin (LH): tem a característica de se espalhar de forma ordenada, de um grupo de linfonodos para outro grupo, por meio dos vasos linfáticos (INCA, 2021);
Linfoma não-Hodgkin (LNH): existem mais de 20 tipos diferentes de linfoma não-Hodgkin. É um tipo de câncer que tem origem nas células do sistema linfático e que se espalha de maneira não ordenada. De modo geral, o LNH torna-se mais comum à medida que as pessoas envelhecem (INCA, 2021).
Objetivo:
Caracterizar a população brasileira diagnosticada com linfomas e tratada no SUS entre 2010 e 2020 e descrever os registros de mortalidade entre 2010 e 2019.
Material e métodos:
Estudo descritivo baseado em dados secundários obtidos de Sistemas de Informação em Saúde do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Foram utilizadas as informações de Autorizações de Procedimentos de Alta Complexidade (APAC) de Quimioterapia e Radioterapia do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS) de pacientes tratados no Sistema Único de Saúde (SUS) e registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Os dados foram coletados segundo CID principal e causa básica de morte de Linfoma de Hodgkin (C81) e Linfoma não Hodgkin (C82-C85; C96) entre os anos de 2010 e 2020.
Resultados:
Radioterapia e Quimioterapia
Foram identificados 91.468 casos de linfomas entre 2010 e 2020 que realizaram 721.096 procedimentos de alta complexidade em ambulatórios do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 94% quimioterapia e 6% radioterapia. Os pacientes eram, em sua maioria, portadores de Linfoma não Hodgkin (74%), do sexo masculino (55%), com média de 49 anos, sendo a faixa etária de 60 a 69 anos a mais comum (19%).
O LH predominou na população mais jovem (média de 33 anos), enquanto os pacientes portadores de LNH têm, em média, 54 anos de idade. Entre os linfomas não Hodgkin (LNH), os mais frequentes foram LNH difuso (72%) e LNH folicular (13%). Apenas 2% dos pacientes não possuíam informação sobre estadiamento. Ao considerar aqueles pacientes com registros válidos, a maior parte dos pacientes (55%) foi diagnosticado em estádios 0, I e II, com diagnóstico mais precoce em pacientes portadores de LH (60%) do que pacientes portadores de LNH (53%). A demora no diagnóstico torna o tratamento de linfomas mais caro para o Sistema Único de Saúde. Para pacientes diagnosticados em estádios avançados (III e IV), o gasto médio é 34% superior quando comparado com pacientes diagnosticados precocemente.
Em todo o período, o gasto médio por paciente foi de R$11.118,45 e entre os anos de 2011 e 2014 o gasto por paciente foi superior à média do período. A partir do ano de 2011 iniciou-se a discussão sobre a inclusão do remédio Rituximab (mabthera) no tratamento de linfoma não-Hodgkin que estava entre os dez medicamentos mais solicitados na Justiça e que foi incorporado, através da portaria Nº 63/2013, em 1ª e 2ª linha no SUS. Quase a totalidade (97%) dos pacientes fizeram o tratamento em seu estado de residência, porém a maioria deles (57%) realizaram o tratamento fora do seu município de residência. O estado de São Paulo concentrou 25% dos pacientes, seguido por Minas Gerais (10%) e Rio Grande do Norte (10%).
Mortalidade
Entre os anos de 2010 e 2019 foram registrados 48.839 óbitos por linfomas, com média de 4.884 óbitos ao ano. Em todo o período, o ano de 2019 apresentou o maior número de óbitos por linfomas (5.455) o que representou um aumento de 26,8% se comparado ao início do período, assim como em outro estudo realizado no país (BOCCOLINI e col., 2015). A maioria dos óbitos ocorreram no sexo masculino (55%), com mediana de 64 anos de idade. Dos registros de mortalidade por linfomas, 89% correspondem aos óbitos por linfoma não-Hodgkin sendo 66% Linfoma não-Hodgkin de outros tipos, SOE.
Por razões ainda desconhecidas, o número de casos de linfoma não-Hodgkin duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos (INCA, 2021). O Estado de São Paulo registrou o maior número de óbitos por linfomas no período. Entretanto, ao analisar a taxa bruta de mortalidade por linfomas, o estado do Rio Grande do Norte apresentou a maior taxa do país com 14,1 mortes por linfomas a cada 100 mil habitantes. Outros seis estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Distrito Federal, Paraná e Mato Grosso do Sul) apresentaram taxas superiores à do Brasil (2,6/100.000 habitantes). Segundo outro estudo realizado no país, houve aumento crescente e significante (P=0,000), das taxas de óbitos por doenças oncohematológicas para todas as regiões brasileiras, sendo a região Nordeste a segunda com maior incremento anual (0,16 óbitos por 100 mil habitantes) (DOMINGUEZ e col., 2020).
Conclusão:
Conhecer o panorama do diagnóstico de linfomas nos pacientes tratados no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos 11 anos é um desafio para o planejamento estratégico da saúde. O diagnóstico precoce é uma valiosa ferramenta para o controle da doença para possibilitar melhores desfechos, além de diminuir os gastos com tratamento no país. É necessário que medidas efetivas sejam tomadas para antecipar o diagnóstico, principalmente, para portadores de LNH cujo possui maior percentual de pacientes diagnosticados tardiamente e o início do tratamento dos linfomas, visto que esse é um aspecto importante para melhor prognóstico e controle do câncer.
Referências Bibliográficas:
Boccolini PMM, Boccolini CS, Meyer, A. Tendência de mortalidade por linfomas não Hodgkin no Brasil, 1980 a 2012. Cad. saúde colet. 2015;23(2):188-197.
Dominguez RGS, Freire ASV, Silva SS, Campos NAS. Morbimortalidade por doenças oncohematológicas no Brasil entre 2002 e 2016. Electronic Journal Collection Health. 2020;12(10).
Instituto Nacional de Câncer (INCA). Linfoma de Hodgkin. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/linfoma-de-hodgkin. Acesso em 29 nov. 2021.
Instituto Nacional de Câncer (INCA). Linfoma não-Hodgkin. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/linfoma-nao-hodgkin. Acesso em 29 nov. 2021.
Ministério da Saúde (BR). Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Linfoma de Hodgkin. Brasília: Conitec, 2020.
Storck K, Brandstetter M, Keller U, Knopf A. Clinical presentation and characteristics of lymphoma in the head and neck region. Head Face Med 15, 1 (2019). https://doi.org/10.1186/s13005-018-0186-0.