Introdução
A radioterapia é uma modalidade terapêutica essencial no tratamento de diversas neoplasias malignas, desempenhando um papel crucial na abordagem oncológica e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. No Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, a oferta de radioterapia é fundamental para garantir acesso equitativo ao tratamento oncológico para a população. A análise da produção de radioterapias no SUS ao longo dos anos permite avaliar a eficiência, a distribuição de recursos e identificar áreas que necessitam de melhorias.
Objetivo
O objetivo deste estudo foi descrever a produção de radioterapias no SUS entre 2018 e 2023 no Brasil, focando na quantidade de procedimentos realizados, custos envolvidos, distribuição geográfica, tipo de câncer tratado e estadiamento das neoplasias.
Metodologia
Foi realizado um estudo transversal descritivo, utilizando dados das Autorizações de Procedimentos de Alta Complexidade (APAC) do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA) do DATASUS. Foram coletados todos os dados de radioterapias realizados entre 2018 e 2023 no Brasil. Os cálculos e análises foram realizados utilizando o software Microsoft PowerBI®.
Resultados
Quantidade de Radioterapias Realizadas
Entre 2018 e 2023, foram produzidas 964.857 APACs para radioterapia, atendendo a um total estimado de 701.262 pacientes. O ano de 2018 registrou o maior número de radioterapias, com quase 259 mil procedimentos realizados. Porém houve uma queda significativa na produção em 2020 e 2021, devido ao impacto da pandemia de Covid-19, com menos de 130 mil APACs produzidas para cada um desses anos. Em 2022 e 2023, mesmo com a retomada das atividades normais, o número de radioterapias realizadas foi de aproximadamente 135 mil e 140 mil, respectivamente, representando quase metade da produção de 2018.
Evolução dos Custos
Os custos associados à radioterapia no SUS aumentaram significativamente ao longo do período estudado. Em 2018, o gasto total foi de 402 milhões de reais, enquanto em 2023 esse valor subiu para 622 milhões de reais. A média de custo por procedimento também aumentou, passando de R$1.552,05 em 2018 para R$4.440,14 em 2023. No total, mais de três bilhões de reais foram gastos em radioterapias no SUS durante o período de estudo.
Tipos de Câncer e Estadiamento
Entre as neoplasias mais frequentemente tratadas com radioterapia, a Neoplasia Maligna de Mama foi a mais prevalente, representando 24,6% dos casos, seguida pela Neoplasia Maligna de Próstata, com 17,4%. Em relação ao estadiamento, a maioria dos casos tratados estava no estádio III, totalizando 31,2% dos procedimentos, seguido pelo estádio II, com 28,8%.
Distribuição Geográfica
A análise geográfica revelou uma desigualdade na distribuição dos procedimentos de radioterapia. O estado de São Paulo foi responsável sozinho por 22,8% de todas as APACs emitidas no período estudado. A região Sudeste concentrou quase metade (46,2%) de todas as radioterapias realizadas no Brasil entre 2018 e 2023.
Conclusão
Os resultados do estudo destacam um aumento expressivo nos custos por procedimento e uma desigualdade geográfica significativa, com uma concentração notável de serviços no sudeste do país. Esses achados demonstram a necessidade de políticas de saúde mais equitativas, que promovam uma distribuição mais equilibrada dos recursos e acesso ao tratamento de radioterapia em todas as regiões do Brasil. Além disso, a predominância de tratamentos em estádios avançados das neoplasias reforça a importância de campanhas de diagnóstico precoce e prevenção, visando melhorar as taxas de detecção em estágios iniciais e, consequentemente, as chances de cura e qualidade de vida dos pacientes oncológicos.
*Resumo originalmente aceito e publicado pelos Anais do Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia em 2024.