Luta Contra o Câncer Infanto-Juvenil

Mortalidade

As taxas de mortalidade por câncer são as melhores medidas do progresso da luta contra o câncer, pois permitem estimar o risco de morte por câncer e ainda acompanhar sua trajetória ao longo do tempo em um determinado grupo populacional ou em determinado tipo de câncer.

Quando se trata de crianças e adolescentes, na faixa etária de 1 a 19 anos de idade, o câncer é a segunda principal causa de morte. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), nos últimos 40 anos a mortalidade por câncer infanto-juvenil diminuiu no Brasil devido à progressos significativos no tratamento das neoplasias, sendo que, atualmente, cerca de 70% das crianças e adolescentes até 19 anos de idade conseguem ser curados quando diagnosticados precocemente (1).

Analisando apenas o período de 2000 a 2014, fica nítido que houveram grandes variações na mortalidade pelos principais cânceres que acometem crianças e adolescentes, em especial, pelas Leucemias e pelos cânceres no Sistema Nervoso Central. O que torna a questão preocupante, por um lado, é que as taxas de mortalidade por tipo de câncer são bastante heterogêneas nas diferentes Regiões Geográficas e Unidades da Federação do território nacional e, por outro lado, alguns tipos de câncer, ao invés de apresentarem tendências decrescentes, apresentam tendências crescentes.

Mortalidade nas diferentes regiões

Em 2014, por exemplo, a maior taxa de mortalidade por Leucemias ocorreu na Região Norte, com 17 óbitos a cada 1 milhão de crianças e adolescentes, e a menor taxa foi na Região Nordeste, com 11 óbitos a cada 1 milhão de crianças e adolescentes. Além disso, por todo o período analisado, enquanto as Regiões Sudeste e Sul apresentaram uma tendência de queda da mortalidade, as Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, apresentaram forte tendência de aumento da mortalidade.

A mortalidade por Leucemias tem diminuído de forma consistente na Região Sudeste provavelmente como reflexo, entre outros aspectos, do efeito de intervenções públicas na área da oncologia pediátrica ocorridas nas últimas décadas, resultando em melhorias no diagnóstico e no tratamento, como já apontado pelo INCA. Já o forte aumento da mortalidade na Região Norte pode ser reflexo da dificuldade de acesso aos serviços de saúde, do diagnóstico tardio e/ou da infraestrutura de assistência inadequada, repercutindo, consequentemente, em um pior prognóstico para o paciente.

Incidência

Para descrever a epidemiologia do câncer infanto-juvenil é necessário conhecer não apenas a mortalidade específica por tipo de câncer, mas também sua incidência e sobrevida (2). Quanto à incidência, de acordo com o INCA, para 2016 são estimados aproximadamente 12.600 casos novos de câncer em crianças e adolescentes até 19 anos de idade no Brasil (3). Embora este número pareça elevado, o câncer infanto-juvenil é considerado raro e atinge apenas uma a cada 5.571 crianças e adolescentes (INCA), sendo que os cânceres mais frequentes nessa faixa etária são as Leucemias, os cânceres no Sistema Nervoso Central e os Linfomas.

Fatores de risco

Os fatores que desencadeiam o câncer, as origens histológicas, os locais primários e os comportamentos clínicos do câncer em crianças e adolescentes são, em geral, diferentes daqueles nos adultos e, por isso, a necessidade de ser estudado separadamente do câncer do adulto. As neoplasias infanto-juvenis são predominantemente de natureza embrionária, fazendo com que as células cresçam mais depressa que nos adultos e tornem-se bastante invasivas, porém apresentam uma melhor resposta aos tratamentos.

Enquanto que nos adultos os principais fatores de risco de câncer são ambientais e estão relacionados à exposição a agentes carcinogênicos e a hábitos de vida inadequados, nas duas primeiras décadas de vida o desenvolvimento do câncer está intensamente ligado a fatores genéticos. Algumas pesquisas recentes, ainda pouco conclusivas, também têm encontrado associação entre o aumento do risco do desenvolvimento de certos tipos de câncer nos primeiros anos de vida e a exposição dos país a radiação (4), a agrotóxicos, em especial inseticidas (5), e ao parto tipo cesárea (6).

 

Fonte dos dados:
1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Disponível on-line em: <http://www2.datasus.gov.br/.>.
2. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas Populacionais. Disponível on-line em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2013/serie_2001_2013_tcu.shtm. >.
Notas:

1. INCA. Instituto Nacional de Câncer. Câncer infantil. Disponível on-line em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/infantil.
2. INCA. Instituto Nacional de Câncer. Câncer na criança e no adolescente no Brasil: dados dos Registros de Base Populacional e de Mortalidade. Disponível on-line em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cancer_crianca_adolescente_brasil.pdf.
3. INCA. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2016: Incidência de Câncer no Brasil. Disponível on-line em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/.
4. Pineiro RG et al. Estudio caso-control sobre factores de riesgo de la leucemia infantil en Ciudad de La Habana. Rev Cubana Hig Epidemiol, volume 45, número 1, 2007. Disponível on-line em: /http/scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1561-30032007000100006&lng=es&nrm=iso
5. Roberts JR, Karr CJ and Council on Environmental Health. Techinical report: Pesticide Exposure in Children. Pediatrics, volume 130, número 6, November 2012. Disponível on-line em: < http://pediatrics.aappublications.org/content/pediatrics/130/6/e1765.full.pdf.>.
6. Sevelsted A, Stokholm J, Bønnelykke K, Bisgaard H. Cesarean Section and Chronic Immune Disorders. Pediactrics, volume 135, número 1, January 2015