Saúde da Mulher: Prevenção do Câncer do Colo do Útero

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV)1. É um dos mais frequentes tumores na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil2.

Qual é a relação entre um vírus e câncer?

A infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) é a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) mais frequente no mundo. Estima-se que o risco de uma pessoa ter contato com o HPV durante a vida chega a 80%3. Aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16, 18 ou ambos. Comparando esse dado com a incidência anual de aproximadamente 500 mil casos de câncer do colo do útero, conclui-se que o câncer é um desfecho raro, mesmo na presença da infecção pelo HPV. Ou seja, a infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento do câncer do colo do útero4.

É importante ressaltar que existem outros fatores que aumentam o risco para desenvolvimento deste tipo de câncer, tais como o início precoce da vida sexual e múltiplos parceiros, tabagismo e uso prolongado de pílulas anticoncepcionais1.

Como posso me prevenir?
É muito importante ressaltar que o câncer do colo do útero é um câncer altamente preventivo. A vacinação contra o HPV antes do início da vida sexual e a realização do exame preventivo (Papanicolau) que pode detectar as lesões precursoras se complementam como ações de prevenção desse tipo de câncer1.

Vacina do HPV no Brasil

A vacina distribuída no Sistema Único de Saúde (SUS) é a quadrivalente que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos (o 16 e o 18) são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. No âmbito público a vacina está disponível para5:

– Meninas de 9 a 14 anos;
– Meninos de 11 a 14 anos;
– Pessoas vivendo com HIV/Aids de 9 a 26 anos;
– Mulheres imunossuprimidas, transplantadas e/ou portadoras de câncer de 26 a 45 anos.

Exame preventivo (Papanicolau)

O exame Papanicolau, método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil, deve ser feito por mulheres, homens trans e pessoas não binárias designadas mulher ao nascer entre 25 a 64 anos que já tiveram atividade sexual6.

– Os dois primeiros exames devem ser feitos com intervalo de um ano;
– Se os resultados estiverem normais, devido à longa evolução da doença, o exame pode ser realizado a cada três anos.

Discussões:

Apesar de ser uma doença evitável, tratável e com vacina disponível na rede pública de saúde, a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de vacinar 80% da população está abaixo do desejado no Brasil. Segundo dados compilados pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em 2020, a primeira dose da vacina HPV foi aplicada em cerca de 70% das meninas e em pouco mais de 40% dos meninos. Na segunda dose, os índices foram mais baixos: aproximadamente 40% e 30%. Com os dados do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), nota-se que 2021 registrou o menor número de aplicações até o momento: 2.092.499 doses em meninas de 9 a 14 anos.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 20197 (IBGE, 2021), estima-se que 81,3% das mulheres da faixa etária alvo do programa realizaram o exame preventivo há menos de três anos da data da entrevista, porém com diferenças regionais. As Regiões Sul (84,8%) e Sudeste (84,1%) apresentaram percentuais acima da média nacional, enquanto as Regiões Norte (79,0%), Centro-Oeste (78,8%) e Nordeste (76,4%) situaram-se abaixo dessa média (IBGE, 2021). Com os dados do Sistema de Informação do Câncer (SISCAN), a menor proporção de mulheres que referem ter realizado exame preventivo encontra-se no Amapá (73,7%), enquanto Espírito Santo (90,2%) apresentou o melhor índice.

No ano de 2019 foram registrados 6.596 óbitos por câncer do colo do útero no Brasil, sendo que as Regiões Nordeste e Sudeste concentram mais que 63% destes óbitos. Apesar disso, são estados da Região Norte que apresentam a maior taxa de mortalidade por câncer do colo do útero no Brasil. Entre 2010 e 2018, o estado do Amazonas liderou esse ranking, porém em 2019 houve uma mudança neste cenário: Roraima passou a liderar a taxa de mortalidade com 14,1 mortes por câncer do colo do útero a cada 100.000 mulheres.

Ao comparar os dados de mortalidade de 2018 e 2019 cinco estados brasileiros registraram aumento (>10%) e quatro estados registraram diminuição (< -10%) no número de óbitos por câncer do colo do útero. Roraima foi o estado que registrou maior aumento (54%) seguido por Sergipe (28%), Rondônia (20%), Piauí (18%) e Bahia (11%), enquanto Paraná (-11%), Mato Grosso do Sul (-13%), Amapá (-14%) e Distrito Federal (-18%) apresentaram diminuição. A maioria dos estados brasileiros registraram estabilidade no número de óbitos por câncer do colo do útero. É importante ressaltar que esse tipo de câncer é de fácil prevenção e detecção e as mortes por essa causa, ainda que em estabilidade, gera um alerta para melhorar os pilares de vacinação, rastreamento e tratamento que são essenciais para acelerar a eliminação do câncer do colo do útero (OPAS, 2020).

Fonte dos dados:

  • Imunização*: Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). Disponível online em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/
  • Exame Papanicolau*: Sistema de Informação do Câncer (SISCAN). Disponível online em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/
  • Óbitos: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Disponível online em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/
  • Projeção da população por sexo: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível online em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/

Nota: Dados de vacinação extraídos em 03/03/2022 e dados de exame Papanicolau extraídos em 09/03/2022.

Referências:
1. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer do colo do útero [internet]. Rio de Janeiro (RJ); 2021 [acesso em 08 mar 2022]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-do-colo-do-utero
2. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Conceito e Magnitude [internet]. Rio de Janeiro (RJ); 2021 [acesso em 08 mar 2022]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/conceito-e-magnitude
3. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Principais Questões sobre HPV: prevenção, diagnóstico e abordagem [internet]. Rio de Janeiro (RJ); 2020 [acesso em 05 mar 2022]. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-sobre-hpv-prevencao-diagnostico-e-abordagem/#:~:text=A%20infec%C3%A7%C3%A3o%20pelo%20HPV%20(Papilomav%C3%ADrus,precursora%20do%20c%C3%A2ncer%20de%20colo.
4. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Qual é o risco de uma mulher infectada pelo HPV desenvolver câncer do colo do útero? [internet]. Rio de Janeiro (RJ); 2021 [acesso em 08 mar 2022]. Disponível em: https://www.inca.gov.br/perguntas-frequentes/qual-e-o-risco-uma-mulher-infectada-pelo-hpv-desenvolver-cancer-colo-utero#:~:text=Dentre%20os%20HPV%20de%20alto,lar%C3%ADngeos%2C%20s%C3%A3o%20considerados%20n%C3%A3o%20oncog%C3%AAnicos.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde amplia vacinação contra HPV para mulheres imunossuprimidas com até 45 anos [internet]. Brasília (DF); 2021 [acesso em 05 mar 2022]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/saude-amplia-vacinacao-contra-hpv-para-mulheres-imunossuprimidas-com-ate-45-anos
6. BRASIL. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. – 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2016.
7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde 2019: ciclos de vida: Brasil [internet]. Rio de Janeiro (RJ); 2021 [acesso em 06 mar 2022]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101846.

Nota:

Estudo originalmente produzido em 2017 e atualizado em 2022.