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Impacto da covid-19 na oncologia

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Sem dúvidas, combater a pandemia e, ao mesmo tempo, manter a prestação de serviços de saúde de qualidade para controle e combate à outras condições e agravos à saúde é um grande desafio. Os sistemas de saúde em geral, assim como no Brasil, não estavam preparados para atender de forma rápida e coordenada as necessidades de implementar ações de prevenção, controle e tratamento de uma doença infecciosa transmissível desconhecida e de tamanho impacto social.

Nesse contexto, as medidas emergenciais inicialmente implementadas focaram, especialmente, na reorganização dos serviços de saúde, no âmbito público e privado, com a priorização de leitos hospitalares, equipamentos, insumos médico hospitalares e alocação dos profissionais de saúde para prestar assistência àqueles gravemente doentes com infecção pelo novo Coronavírus. Com isso, ocorreram interrupções expressivas nos serviços de saúde destinados ao diagnóstico, tratamento, reabilitação de pacientes com outros agravos à saúde, incluindo pacientes com câncer.

Identificar os gargalos da assistência oncológica intensificados pelas interrupções e cancelamentos dos serviços de saúde durante a pandemia é o ponto de partida. As consequências do represamento dos novos diagnósticos de câncer são preocupantes e acumulativas à curto, médio e longo prazo tanto na incidência, morbimortalidade por câncer na população, quanto na qualidade e sobrevida dos pacientes, nos custos dos sistemas de saúde, entre outras repercussões sócio econômicas para a sociedade em geral.

 

METODOLOGIA

Estudo descritivo baseado em Sistemas de Informação em Saúde do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

  1. Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS)
  • Procedimentos com finalidade diagnóstica (2019 a 2021);
  • Autorização para Procedimentos de Alta Complexidade (APAC) de Quimioterapia e Radioterapia (2019 a 2021);
  1. Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
  • Óbitos por câncer (1996 a 2020*).

*Dados preliminares

Para elaboração do estudo foram selecionados cinco tipos de câncer mais incidentes no Brasil para o ano de 2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2019): mama feminina, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Procedimentos com finalidade diagnóstica

No ano de 2019 foram realizados, no Sistema Público de Saúde, 34.328.560 procedimentos com finalidade diagnóstica. Após o início da pandemia, nota-se que o número de procedimentos registrados teve queda significativa de 22% no ano de 2020. No ano seguinte, mesmo com a incorporação da vacinação contra a Covid-19 e com a retomada dos serviços de saúde, o número de procedimentos realizados continuou inferior comparado com o ano de 2019 (pré-pandemia) e registrou queda de 9%.

A diminuição dos procedimentos com finalidade diagnóstica foi observada em todas as localizações estudadas variando de 15% a 40% em 2020 e de 8% a 25% em 2021. No ano de 2021, para procedimentos diagnósticos de cólon e reto, houve aumento de 2% comparado com o ano de 2019, principalmente no procedimento de pesquisa de sangue oculto nas fezes (aumento de 7%) que é o método ideal para rastreamento do câncer colorretal em grandes populações (A.C.Camargo, 2018).

As regiões Nordeste e Norte do país foram as mais impactadas nos procedimentos com finalidade diagnóstica. Os índices da região Nordeste foram piores do que a média do Brasil para cólon e reto, estômago, mama e pulmão, enquanto a região Norte do país teve piores índices para procedimentos colorretal e próstata.

A redução dos exames com finalidade diagnóstica interfere diretamente na identificação de novos casos de câncer. No ano de 2020, entre março e maio, sociedades médicas já apontavam que 50 mil brasileiros não receberam diagnóstico de câncer (SBCO, 2020). A redução do número de diagnóstico de câncer durante esse contexto, já evidenciada em muitos países, chama atenção para uma possível nova epidemia: a de casos de tumores avançados, em que certamente o prognóstico é pior, em um sistema de saúde, como o Sistema Único de Saúde (SUS), em que, sob condições normais, já apresenta dificuldade em oferecer tratamentos em prazos adequados (Figueiredo e col., 2021).

 

Procedimentos – Quimioterapia e Radioterapia

            Os procedimentos de quimioterapia e radioterapia apresentaram resultados distintos com relação ao número de Autorização para Procedimentos de Alta Complexidade (APAC). Não foi registrado queda nas APAC de quimioterapia em 2020 e 2021. Entretanto, para radioterapia, houve redução significativa nos dois anos, sendo que no ano de 2021 a queda registrada foi de 42%.

O estadiamento dos pacientes com câncer aumentou tanto para procedimentos de quimioterapia, quanto de radioterapia. Pacientes que realizam sessões de quimioterapia e radioterapia já iniciavam seu tratamento em estádios avançados (III e IV) antes da pandemia e esse panorama piorou nos anos de 2020 e 2021, principalmente para pacientes de câncer de cólon e reto, reforçando os achados do estudo do médico oncologista Dr. Samuel Aguiar Junior, líder do Centro de Referências em Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center (A.C.Camargo, 2021).

 

 

Mortalidade por câncer

As neoplasias são consideradas uma das principais causas de mortes no Brasil e no mundo. Segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, desde 2013 o câncer é considerado a segunda principal causa de morte no país e, em 2015, o câncer já era primeira causa de morte em 10% dos municípios brasileiros (Observatório de Oncologia, 2018).

Dados de mortalidade do ano de 2020 indicam uma mudança neste cenário: as mortes por “algumas doenças infecciosas e parasitárias” se tornaram a segunda principal causa de morte no país. Apesar disso, é importante destacar que as mortes por câncer de mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago, em 2020, representaram 41% das mortes por neoplasias e o câncer permanece sendo uma das principais causas de morte no país e, se a forma como o Brasil conduz a Política Nacional de Atenção Oncológica não for modificada, em 2029 o câncer se tornará a primeira causa de morte no país e, pela primeira vez, ficará à frente das doenças cardiovasculares (Observatório de Oncologia, 2016).

REFERÊNCIAS

A.C. Camargo Cancer Center. O exame de sangue oculto nas fezes é o método ideal para rastreamento do câncer colorretal em grandes populações [internet]. São Paulo (SP); 2018 [acesso em 02 abril 2022]. Disponível em: https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/noticias/o-exame-de-sangue-oculto-nas-fezes-e-o-metodo-ideal-para-rastreamento-do

A.C. Camargo Cancer Center. Dia Mundial do Câncer: atenção aos sinais e sintomas durante a pandemia [internet]. São Paulo (SP); 2021 [acesso em 25 mar 2022]. Disponível em: https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/noticias/dia-mundial-do-cancer-atencao-aos-sinais-e-sintomas-durante-pandemia

Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Sociedades médicas apontam redução de 70% das cirurgias e que 50 mil brasileiros não receberam diagnóstico de câncer [internet]; 2020 [acesso em 28 mar 2022]. Disponível em: https://sbco.org.br/atualizacoes-cientificas/sociedades-medicas-apontam-reducao-de-70-das-cirurgias-e-que-50-mil-brasileiros-nao-receberam-diagnostico-de-cancer/

Figueiredo BQ; Souza ACB; Machado BG; Siqueira CA; Alves GAB; Carvalho JPM; Moreira LSB; Ferreira Neto L; Milagre MD; Baliano ML. Queda no número de diagnósticos de cânceres durante pandemia de Covid-19: estadiamento e prognóstico prejudicados. Research, Society and Development, v. 10, n. 11, e273101119762, 2021.

Observatório de Oncologia. 2029: Ano em que o câncer será a primeira causa de morte no Brasil [internet]; 2016 [acesso em 29 mar 2022]. Disponível em: https://observatoriodeoncologia.com.br/2029-ano-em-que-o-cancer-sera-a-primeira-causa-de-morte-no-brasil/

Observatório de Oncologia. Câncer como a primeira causa de morta nos municípios brasileiros [internet]; 2018 [acesso em 29 mar 2022]. Disponível em: https://observatoriodeoncologia.com.br/cancer-como-a-primeira-causa-de-morte-nos-municipios-brasileiros-em-2015/



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