A obrigatoriedade do teste de ácido nucleico (NAT) no Brasil, que verifica a presença de vírus no sangue a ser transfundido, passou a vigorar em 2013 (1,2). O Teste NAT consegue encurtar o prazo de detecção do vírus – a chamada janela imunológica – nas bolsas de sangue doadas, pois identifica o material genético do vírus e não os anticorpos.
O vírus HIV, que até então era constatado apenas 22 dias após a contaminação, com o NAT é detectado a partir de 7 dias da contaminação do doador do sangue. Já a Hepatite C, antes constatada após 70 dias do contágio, agora é detectada em 11 dias (3).
O objetivo deste estudo é avaliar a incidência de infecção viral (HIV, HBV e HCV) transmitida por hemocomponentes no Brasil. Foram analisados os dados obtidos pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN (4,5). Para este estudo foram incluídos os casos notificados para Aids e Hepatites Virais entre 2007 e 2017, tendo como modo de infecção a transfusão sanguínea.
Dados oficias do Ministério da Saúde mostram que em 2015, os serviços públicos foram responsáveis por 35% das transfusões de sangue no Brasil, seguidos dos serviços credenciados ao SUS, que responderam por 47,83%, e dos serviços exclusivamente privados, que atingiram 17% (6). Com base nas publicações técnicas dos anos anteriores, o Observatório de Oncologia estima que neste período (2007-2017) foram realizas de 38 milhões de procedimentos de transfusões de sangue no Brasil.
Hepatites Virais (HBV e HCV)
Do total de notificações para Hepatites Virais (420.280), as infecções adquiridas via sangue transfundido corresponderam a 5% (21.512), com queda de 52% (2.179 para 1.040) nos casos notificados entre os anos de 2007 e 2017, média 1.956 casos/ano. Destes, 59% eram mulheres (razão feminino/masculino 1,4); 50% entre 40-59 anos e 22% entre 60-69; 63% brancos e 28% negros; 51% (13.553) eram da região Sudeste (SE), seguido por 36% do Sul (S), 7% do Nordeste (NE), 3% do Centro-Oeste (CO) e 2% do Norte (N). O agente etiológico foi 84% vírus C, 14% vírus B e 2% vírus B+C; 91% com hepatite crônica e 3% aguda.
Aids (HIV)
No mesmo período, as notificações de Aids via sangue transfundido corresponderam a 0,04% do total de casos de AIDS notificados (155 de 419.982) com queda de 85% (26 para 4) entre os anos de 2007 e 2017, média 7 casos/ano. Destes, 76% eram homens (razão masculino/feminino 3,2); 43% entre 20-39 anos e 46% entre 40-59; 54% brancos e 34% negros; a distribuição geográfica foi semelhante às hepatites: SE 45%, S 25%, NE 12%, CO 10%, N 9%.
Conclusões
Não é possível verificar o impacto do teste NAT pois a data em que o paciente recebeu a transfusão não está disponível para consulta (o paciente pode ter recebido o sangue contaminado antes de 2013, quando da obrigatoriedade do teste NAT), embora a informação esteja registrada na Ficha de Notificação (7,8). No caso das hepatites, a maioria chegou ao serviço de saúde após os primeiros sintomas, sem investigação prévia. Apesar de infecções virais por via transfusional ocorrerem, não há no mercado mundial testes com 100% de sensibilidade para detectarem a presença de vírus no sangue (9). A subnotificação das infecções foi uma limitação do estudo. Embora os dados do SINAN de 2014 – 2017 estejam sujeitos a revisão, ressalta-se que as notificações de casos de infecção viral por sangue transfundido reduziram consideravelmente nos 11 anos estudados.
O estudo aprimora o conhecimento das características de infecções por transfusão de sangue no Brasil, apoiando estratégias de vigilância epidemiológica para garantir a prevenção das infecções via transfusão sanguínea.
Fonte dos Dados:
Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN
Referências:
1. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria N.º 2.712, de 12 de novembro de 2013. Redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos (Revogada). Disponível em: https://bit.ly/2OrCmuK. Acesso em: julho de 2018.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria N.º 158, de 4 de fevereiro de 2016. Redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. Disponível em:https://bit.ly/2HZPfrr. Acesso em: julho de 2018.
3. ABRASTA – Associação Brasileira de Talassemia. Manual ABRASTA – Talassemia: tudo o que você precisa saber [website]. Disponível em: http://abrasta.org.br/manual-de-talassemia/. Acesso em: julho de 2018.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN [webiste]. Casos de Aids – Desde 1980. Disponível em: https://bit.ly/2M6ZDQU. Acesso em: julho de 2018.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN [webiste]. Hepatites Virais. Disponível em: https://bit.ly/2vl72VJ. Acesso em julho de 2018.
6. Brasil. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Secretaria De Atenção à Saúde. Ministério Da Saúde. Caderno de informação – sangue e hemoderivados: Dados de 2015. 1.ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. 118 p.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ficha de Notificação Compulsória para Hepatites Virais. Disponível em: https://bit.ly/2NW8ky1. Acesso em: julho de 2018.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ficha de Notificação Compulsória para Aids (Adulto). Ficha de Notificação Compulsória para AIDS. Disponível em: https://bit.ly/2v02dBW. Acesso em: julho de 2018.
9. Garcia, Fernanda B. et al . Importância dos testes sorológicos de triagem e confirmatórios na detecção de doadores de sangue infectados pelo vírus da hepatite C. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São José do Rio Preto , v. 30, n. 3, p. 218-222, 2008.