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O padrão da mortalidade por câncer nas regiões brasileiras

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Após décadas de aumentos constantes, as taxas de mortalidade por câncer passaram a mostrar tendência de declínio nos últimos anos em vários países desenvolvidos como os Estados Unidos e a maior parte da Europa Ocidental. Por outro lado, em decorrência da constante queda da mortalidade por doenças cardiovasculares observada em várias partes do mundo, o câncer já assumiu o papel de principal causa de morte em alguns países. O Brasil segue esta tendência e, daqui a uma década, em 2029, se as políticas nacionais de prevenção não forem aprimoradas e devidamente aplicadas, o câncer passará a ser a primeira causa de morte em nosso país (1).

Sabemos que o aumento dos casos é diretamente proporcional ao envelhecimento da população e a uma melhor condição socioeconômica. No caso do Brasil, a nossa população mudou nas últimas décadas e a sociedade marcada pela economia rural cedeu lugar a um país urbano, com a maioria da população residindo nas cidades de maior infraestrutura.

As 27 Unidades Federativas brasileiras, divididas em grupos com perfis similares, configuram 5 regiões com características físicas, econômicas e sociais distintas. O Norte é a maior região e abrange quase a metade do território nacional, é caracterizada pela baixa demografia, porém, é a região onde houve maior crescimento populacional nas últimas décadas.

Diante deste cenário, desenvolvemos este estudo com o objetivo de conhecer e analisar a evolução da mortalidade por neoplasias malignas na população das cinco regiões brasileiras. Foram utilizados dados do Atlas de Mortalidade por câncer, ferramenta desenvolvida pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), tendo como uma de suas principais finalidades auxiliar os profissionais de saúde pública na determinação de prioridades à prevenção e ao controle da doença.

Taxas de mortalidade por câncer entre homens

Segundo o INCA, o câncer de próstata é o tipo mais incidente no Brasil, excluindo o câncer de pele não melanoma. Porém, a taxa de mortalidade por este tipo de tumor tem diferenças significativas entre as regiões.

A região Nordeste é a única onde o câncer de próstata é o campeão isolado em termos de taxa de mortalidade por câncer.

Já na região Norte, três tipos de tumores se destacam: estômago, próstata e os cânceres do aparelho respiratório. O câncer de estômago foi o que mais matou até 2007, com pequenas variações até 2011, quando foi superado pelo câncer de próstata e, atualmente, aparece em segundo lugar.

No Centro-Oeste destacam-se os cânceres de próstata e aparelho respiratório com taxas de mortalidade semelhantes desde 2012.

Nas regiões Sul e Sudeste, os campeões são os cânceres do aparelho respiratório, com destaque para a região Sul que apresenta uma alta mortalidade por este tipo de doença em relação ao resto do país.

Taxas de mortalidade por câncer entre mulheres

De uma maneira geral, dentre os cânceres, o de mama é o que mais mata as mulheres em todas as regiões, com exceção da região Norte, onde a primeira causa de morte por câncer no público feminino foi o de colo de útero e apresenta taxa de mortalidade crescente desde 2010. O Estado do Amazonas apresentou o maior índice da região (e do país) em 2014, onde cerca de 15 a cada 100.000 mulheres morreram em decorrência de neoplasia maligna, enquanto que em São Paulo (estado com a menor mortalidade), a taxa foi de cerca de 3 mulheres a cada 100.000 (2).

Na região Nordeste, o câncer de colo de útero era o segundo que mais matava as mulheres, sendo ultrapassado, em 2010, pelos cânceres do sistema respiratório (pulmão, traqueia e brônquios), que apresentam taxa crescente significativa.

Já na região Sudeste, o câncer de mama é isoladamente o câncer que mais mata. Porém, outros dois tipos praticamente empatam na segunda posição, são eles: câncer de cólon e reto e os cânceres do aparelho respiratório. Até 2005, a segunda causa de morte por câncer era o de cólon e reto, sendo superado pelo câncer respiratório, voltando à segunda posição em 2009 e, a partir de então, superado novamente pelos do aparelho respiratório.

Na região Sul, semelhante ao Sudeste, o câncer que mais mata mulheres é o câncer de mama, porém, as mortes pelos cânceres do aparelho respiratório apresentam forte tendência de crescimento e se aproximam cada vez mais da mortalidade por mama.

Nas regiões mais desenvolvidas como Sul e Sudeste, o câncer de colo de útero (doença que pode ser prevenida se detectada ainda em fase de lesão anterior a malignidade) apresenta taxa de mortalidade bem abaixo das demais regiões, o que pode indicar o melhor acesso das mulheres ao exame Papanicolau (que detecta lesões precoces do câncer), pois, em média, mais de 80% da população alvo desses estados realizaram esse exame nos últimos 3 anos (2).

 

Conclusões

Apesar das diversas campanhas de conscientização para o diagnóstico precoce do câncer de mama, a mortalidade ainda mostra tendência de crescimento em todas as regiões.

As campanhas contra o tabagismo só têm tido impacto no público masculino, pois a mortalidade dos cânceres do sistema respiratório (em especial pulmão) nas mulheres está aumentando em um número bem maior do que nos homens. No público masculino, no entanto, a mortalidade não diminuiu, mas o aumento não foi tão acelerado.

O câncer de próstata ainda causa grande impacto na mortalidade entre homens, apesar de ser um câncer com bom prognóstico se detectado precocemente. Esse fato pode estar associado à falta de cuidado que o homem tem com a sua saúde, preconceito com os exames preventivos e falta de informação.

Por fim, este estudo possibilita analisar as particularidades da mortalidade por câncer nas diferentes regiões, evidenciando que cada uma delas tem as suas próprias características e que precisam ser levadas em consideração para possíveis aplicações de políticas públicas de saúde regionais. Em linhas gerais, o risco de morrer por câncer é maior no Sul e Sudeste, regiões mais desenvolvidas economicamente. Porém, encontrar fundamentos para as diferenças regionais para os tipos específicos de câncer não é uma tarefa simples, há que se fazer um levantamento minucioso de fatores de risco associados a questões culturais e, até mesmo, sociais.

Referências:

  1. OBSERVATÓRIO DE ONCOLOGIA. 2029: ano em que o câncer será a primeira causa de morte no Brasil. Acesso em: Dez/2018. Disponível em: https://observatoriodeoncologia.com.br/2029-ano-em-que-o-cancer-sera-a-primeira-causa-de-morte-no-brasil/
  2. OBSERVATÓRIO DE ONCOLOGIA. Saúde da mulher: prevenção do câncer de colo de útero. Acesso em: Dez/2018. Disponível em: https://observatoriodeoncologia.com.br/saude-da-mulher-prevencao-do-cancer-de-colo-do-utero/
  3. Fonseca, Luiz Augusto Marcondes, José Eluf-Neto, and Victor Wunsch Filho. “Tendências da mortalidade por câncer nas capitais dos estados do Brasil, 1980-2004.” Revista da Associação Médica Brasileira, 3: 309-312, 2010.
  4. Wünsch, Filho V., and J. E. C. Moncau. “Mortalidade por câncer no Brasil 1980-1995: padrões regionais e tendências temporais.” Rev Assoc Med Bras, 3: 250-7, 2002.
  5. Jemal A, Vineis P, Bray F, Torre L, Forman D (Eds). The Cancer Atlas. Second Ed. Atlanta, GA: American Cancer Society; 2014.


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