O câncer do colo do útero é um dos mais frequentes tumores na população feminina e a principal causa da doença é a infecção persistente pelo Papilomavírus Humano (HPV). A infecção genital por esse vírus é muito frequente e não causa doença na maioria das vezes. Entretanto, em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer. Essas alterações são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolau) e são curáveis na quase totalidade dos casos (Instituto Nacional de Câncer – INCA, 2019).
Os dados deste dashboard nos mostram alguns pontos importantes:
A estimativa do INCA é de 17.010 novos casos para cada ano do triênio 2023-2025, sendo o terceiro mais comum entre mulheres, depois apenas de Câncer de Mama e Câncer de Cólon e reto.
Nos últimos doze anos (2012-2023) houve ligeira redução (-3%) na incidência do câncer de colo do útero, de acordo com o INCA. Porém, houve aumento significativo (46%) na quantidade de pacientes que realizaram procedimentos no ambiente ambulatorial com financiamento SUS. Em 2022 foram aproximadamente 50 mil pacientes no ambiente ambulatorial e 19 mil no ambiente hospitalar. Uma hipótese para essa desproporção entre incidência e pacientes no SUS seria as estimativas do INCA estarem subestimadas.
Pacientes entre 30 e 69 anos representam 83% dentre os que realizaram procedimentos ambulatoriais em 2022, sendo a faixa etária de 40-49 anos a mais incidente (26%) e também a que apresentou maior aumento de 2012 para 2022 (59%).
Em 2022, 63% das pacientes que realizaram procedimentos no ambiente ambulatorial fizeram procedimentos com finalidade diagnóstica (31.344 pacientes), seguido por 51% de procedimentos clínicos (25.055 pacientes).
Dentre os procedimentos clínicos de 2022, 48% das pacientes realizaram radioterapia, sendo que esta manteve-se praticamente estável nos últimos 11 anos, enquanto as quimioterapias cresceram significativamente. Ainda neste ano, a quimioterapia avançada representou 39% das pacientes em quimioterapia, aumento de 54% nos últimos 10 anos. Enquanto a quimioterapia em estadios iniciais representou 61% e aumento de 34%. Importante ressaltar que este crescimento na quimioterapia avançada ocorreu mesmo com valor de reembolso por procedimento menor que em estadios iniciais: R$571,50 vs R$1.300. Esses valores não sofreram nenhum reajuste de 2012 a 2022.
Muito importante mencionar que além do aumento das pacientes em tratamento, que pode ser reflexo de aumento de acesso ao tratamento e diagnóstico, os óbitos também cresceram significativamente ao longo destes 9 anos (32%), com 7.434 mortes em 2020. O Câncer de Colo de Útero é o quarto que mais mata mulheres com Câncer, de acordo com o Indicadores de Oncologia.
A quantidade de centros de tratamento teve um aumento 24% no período de 2012 para 2022, passando de 192 para 238 centros no país. As regiões com mais centros de tratamento em 2022 foram Sudeste (48%), Sul (24%) e Nordeste (18%) e as que mais aumentaram a quantidade de centros foram Sudeste com 20 novos centros e Nordeste com 13.
Controle e redução do câncer de colo uterino
Sabe-se que as taxas de incidência e diagnóstico podem variar conforme a implementação e o acesso a programas de prevenção e controle efetivos do câncer de colo uterino. Além disso, as taxas podem ser impactadas por mudanças no comportamento da população. De acordo com dados do INCA (2019), fatores que aumentam o risco de desenvolver esse tipo de câncer são:
- Início precoce da atividade sexual e múltiplos parceiros.
- Tabagismo (a doença está diretamente relacionada à quantidade de cigarros consumidos).
- Uso prolongado de pílulas anticoncepcionais.
O controle do câncer de colo de útero compõe o Plano de Ações Estratégicas no Enfrentamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT), do Ministério da Saúde. Em 2016, foram lançadas as Diretrizes de Rastreamento do Câncer de Colo de Útero, que incluem a realização de citologia oncótica (Papanicolau) em mulheres assintomáticas na faixa etária de 25 a 64 anos, a cada 3 anos, desde que tenham dois exames realizados anualmente com resultados normais. Em casos de lesão de baixo grau detectada, deve-se realizar um novo exame no intervalo de seis meses. É muito importante ressaltar que o câncer de colo de útero é altamente prevenível e, quando as alterações (lesões precursoras) que antecedem o câncer são identificadas e tratadas, a porcentagem de prevenção da doença é alta.
Desde 2014, a vacina tetravalente contra o HPV (tipos 6, 11, 16 e 18) faz parte do Calendário Oficial de Vacinação do Ministério da Saúde, para meninas na faixa etária de 9 a 13 anos. A partir de 2017, passou a fazer parte para os meninos de 11 a 13 anos. A vacinação das crianças, em idade antes do início da atividade sexual, é uma excelente forma de evitar o contágio pelo HPV (vírus sexualmente transmissível) e com potencial de erradicar o câncer de colo de útero no futuro. Porém, a cobertura vacinal ainda é baixa.
Para melhoria deste cenário no Brasil, são necessárias políticas públicas baseadas em evidências e que incluam no seu desenvolvimento programas de detecção e rastreamento de câncer na população, além da educação em saúde.