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Panorama da atenção ao câncer de mama no SUS

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O câncer de mama é a neoplasia mais comumente diagnosticada em mulheres, configurando-se em importante problema de saúde pública mundial devido à sua elevada incidência e morbimortalidade (Santos et al, 2022).

No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estimam-se 73.610 casos novos de câncer de mama para o ano de 2023. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama feminina é o mais incidente no país e em todas as Regiões brasileiras (INCA, 2022).

Os melhores desfechos de tratamento e qualidade de vida estão associados ao diagnóstico precoce, nos estádios iniciais da doença, e ao rápido início do tratamento (Polverini et al, 2016; de Mello Ramirez Medina, 2018; Rodriguez-Rincon et al, 2019). Para isso é fundamental as ações de rastreamento que buscam diminuir a morbidade e mortalidade , identificando tumores em fases iniciais para melhorar as chances de reabilitação e cura (Vilas-Lobo et al, 2022).

Método

Estudo baseados em dados secundários do Departamento de Informática do SUS (DATASUS) e do Registro Hospitalar de Câncer (RHC) do INCA de pacientes diagnosticadas com câncer de mama baseado no código C50 da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) que foram atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS).

Resultados

Cerca de 38% dos diagnósticos de câncer de mama ocorreram em estadiamentos avançados (3 e 4) da doença. Acre (56%), Pará e Ceará (55%) são os estados com piores desfechos de estadiamento ao diagnóstico, sendo que mais da metade das pacientes atendidas foram diagnosticadas em estadiamentos tardios.

O tempo médio entre a primeira consulta com o médico especialista e o diagnóstico do câncer de mama no período de 2015 a 2020 no Brasil foi de 36 dias e cerca de 37% dos casos de câncer de mama levaram mais 30 dias para a confirmação diagnóstica após a consulta com o médico especialista. Os estados com o pior desempenho no tempo até recebimento do diagnóstico do câncer de mama foram Sergipe (94 dias); Amazonas (80 dias) e Roraima (64 dias). Além disso, o tempo para recebimento do diagnóstico aumentou de acordo com o aumento da faixa etária. Para pacientes entre 20 a 29 anos, o tempo médio para receber o diagnóstico foi de 32 dias, enquanto para pacientes entre 50 a 59 e 60 a 69 anos, a média foi de 37 dias.

O tempo médio entre o recebimento do diagnóstico do câncer de mama e início do tratamento, para o período de 2015 a 2020 no Brasil, foi de 174 dias, sendo Sergipe (273 dias), Rondônia (245 dias) e Mato Grosso (233 dias) os estados com o pior desempenho no tempo entre o recebimento do diagnóstico do câncer de mama. O tempo para início do tratamento aumentou consideravelmente de acordo com o aumento da faixa etária. Enquanto para pacientes entre 20 a 29 anos o tempo médio para iniciar o tratamento foi de 112 dias, o tempo médio para pacientes entre 50 a 59 anos foi de 179 dias e para 60 a 69 anos foi de 191 dias.

Considerações finais

De forma geral, o país possui grande proporção de diagnósticos tardios e dificuldades no acesso ao diagnóstico e, principalmente, no tratamento do câncer de mama. Apesar dos avanços jurídicos para a garantia dos direitos dos pacientes oncológicos com a aprovação das Leis N° 12.732/2012 (Lei dos 60 dias) e N° 13.896/2019 (Lei dos 30 dias) e pela Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), na prática, o SUS tem falhado em proporcionar assistência de saúde às brasileiras. Além disso, o panorama evidencia uma grande heterogeneidade entre as regiões brasileiras e mesmo os estados que apresentaram os melhores indicadores analisados ainda estão distantes de ofertar uma assistência satisfatória às mulheres diagnosticadas com câncer de mama.

Referências

de Mello Ramirez Medina J, de Araujo Trugilho I, Mendes GNB, Silva JG, da Silva Paiva MA, de Aguiar SS, Thuler LCS, Bergmann A. Advanced Clinical Stage at Diagnosis of Breast Cancer Is Associated with Poorer Health-Related Quality of Life: A Cross-Sectional Study. Eur J Breast Health. 2018 Dec 19;15(1):26-31. doi: 10.5152/ejbh.2018.4297. PMID: 30816366; PMCID: PMC6385723.

Polverini AC, Nelson RA, Marcinkowski E, et al. Time to Treatment: Measuring Quality Breast Cancer Care. Ann Surg Oncol. 2016;23(10):3392–3402. https://doi.org/ 10.1245/s10434-016-5486-7.

Rodriguez-Rincon D, et al. Factors affecting access to treatment of early breast cancer: Cases studies from Brazil, Canada, Italy Spain and UK. RAND EUROPE. 2019. Disponível em: https://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/research_reports/RR3000/RR3010 z4/RAND_RR3010z4.pdf. Acesso em: 10/03/2020

Santos, Tainá Bastos dos et al. Prevalência e fatores associados ao diagnóstico de câncer de mama em estágio avançado. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, v. 27, n. 02 [Acessado 9 Setembro 2022] , pp. 471-482. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1413-81232022272.36462020>. Epub 02 Fev 2022.
ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/1413-81232022272.36462020.

Vilas-Lobo GR, Santos RS, Silva RR. Screening mammography in SUS before and during the Covid-19 Pandemic: a comparison between biennia. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 10, p. e210111032738, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i10.32738. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/32738.

 

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